A imprensa (incluindo aí o Jornal Nacional) deu hoje um grande destaque a um estudo, apresentado no periódico Archives of Internal Medicine, que chegou à conclusão que a simples ingestão de um bife de 85g diariamente seria suficiente para aumentar em até 13% o risco de morte por doenças coronarianas e/ou câncer. De acordo com o relatório, caso a ingestão fosse de carnes processadas (como linguiças, salsichas e hambúrgueres), o risco poderia subir em até 20%.
Claro que uma informação como esta, sem contextualização e sem explicação sobre como este estudo foi conduzido, pode ser motivo de pânico para quem não vai a fundo pesquisar como estas informações vêm a público. Principalmente depois que a matéria publicada no Estadão diz que o resultado foi obtido após o acompanhamento de 37.698 homens e 83.664 mulheres durante – pasmem! – 28 anos!
Basta uma leitura atenta do texto para surgir a primeira dúvida: qual o tamanho que uma equipe de cientistas precisa ter para acompanhar este batalhão de pessoas, detalhadamente, por 28 anos? Acredito que só o estresse no preenchimento de relatórios e exames detalhados já seria suficiente para causar algumas mortes por estafa.
Aí que veio a primeira resposta: o estudo foi baseado em relatórios detalhados, preenchidos pelos próprios voluntários!
Qualquer pessoa que tenha tentado seguir a dieta do Vigilantes do Peso (meu caso), que obriga a pessoa a anotar, detalhada e diariamente, tudo o que comeu para somar os pontos e manter a dieta, sabe que, no terceiro ou quarto dia (para os mais persistentes), a preguiça em relacionar tudo o que come a cada momento já causa por si só uma aversão à comida. Isto mesmo com um benefício claro: o emagrecimento. Agora imagine você um voluntário, que se ofereceu espontaneamente para participar de um estudo sobre dieta alimentar sem nenhum tipo de recompensa, anotar, diariamente por quase três décadas, tudo aquilo que comeu para fornecer à universidade, sem qualquer fiscalização. Seriam estes relatórios realmente precisos e rigorosos, cientificamente falando?
Outro detalhe: os relatórios incompletos eram completados pelos próprios cientistas.
Ou seja, o próprio “estudo” reconhece a falha do método utilizado e, para chegar às suas “conclusões”, completou os dados que os voluntários não preencheram com valores estatísticos, baseados na população em geral. Além de não observar diretamente o público estudado, os ditos cientistas completaram dados que não puderam observar em primeira mão, com base em números que não foram eles que apuraram.
E não acaba aí. O estudo em questão era interrompido quando o voluntário era diagnosticado, pela primeira vez, com uma das doenças em questão. A partir daí, seus relatórios alimentares deixaram de ser preenchidos.
Pesquisas como esta, com esta quantidade de pessoas e baseados apenas em dados reportados pelos próprios voluntários, são imprecisos por natureza. Além disto, não levam em consideração os diferentes estilos de vida em uma população deste tamanho: seus níveis de estresse, sedentarismo, hipertensão, obesidade e diferentes composições de dieta. Mesmo assim, tentam isolar um único item da dieta como responsável pelas doenças que procuram analisar. Em qualquer pesquisa séria, a observação imparcial, os exames de laboratório e o rigor na coleta dos dados são fundamentais para a confiabilidade do resultado.
Seria mais ou menos o equivalente a anotar, durante – repito – quase três décadas, de que lado da rua você caminha e tirar daí a possibilidade de você ser atropelado por um carro na calçada, baseado em uma probabilidade estatística da população em geral.
sEM COMENTÁRIOS… a pergunta que não quer calar: A que interesses servem estes "cientistas" ???
Achei completamente parcial e não embasado cientificamente…..Provavelmente, mais um grupo similar aos "ecochatos"