Posso comer em paz?

Postado em 12/08/2011 por Adriano Garcia. Classificado como Debates

Adriano Garcia
Editor do EuComoCarne.com.br

Nos meus tempos de faculdade, tive um amigo que era vegetariano. Nada de filosofias orientais, estilo de vida, “defesa dos animais” ou do meio ambiente. Simplesmente o sabor não lhe agradava. Não era radical, o Alex. Leite, ovos e um pouco de peixe para ele não tinha problema, desde que bem feitos. De resto, comia de tudo.

Não havia problema algum em convidá-lo a uma churrascaria, desde que fosse das boas. Hoje, todas as churrascarias que se prezam têm uma mesa de saladas e massas ainda mais farta que o número de cortes de carne servidos. Qualquer pessoa acompanhante de um carnívoro passará muito bem sem uma lasquinha sequer de picanha. Basta querer. E basta também não patrulhar os outros.

Não há nada mais inconveniente no mundo do que a companhia de um militante. Não gosta de carne? Faça como meu amigo Alex: coma sua salada, aproveite. E deixe os outros aproveitarem também. Gosta mas tem alguma razão filosófica para não querer comer carne? Consegue ser coerente e não aceitar um pedaço de contra filé em lugar algum? Parabéns, me orgulho de sua força de vontade, mas não compartilho de sua filosofia. E não acho que o horário do almoço seja a melhor hora para discutir suas razões.

Um dos princípios básicos da vida em sociedade é respeitar as diferenças. Quantas décadas de luta foram necessárias para que diferenças de raça, crença e orientação sexual fossem respeitadas? Por que com opinião ou filosofia de vida tem que ser diferente? Por que ao assumir uma filosofia de vida vegetariana o cidadão também assina um contrato de adesão assumindo a missão de converter os outros a uma filosofia “superior”? Ao contrário do fumo, comprovadamente prejudicial, a ingestão de proteína animal não traz qualquer mal à saúde. E  comer carne é algo que diz respeito somente àquele que a ingere, sem afetar os que convivem no mesmo ambiente.

Claro que alguém vai levantar a mão no fundo da sala e falar, sem esperar: “Tio, e o boi que morreu, não foi prejudicado também?”. Ah sim, ele morreu, mas todos os frigoríficos inspecionados no Brasil devem seguir a normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, referente à insensibilização do animal. É um sofrimento muito menor do que a alface de sua salada, que foi cortada pela raiz, sem anestesia.

Mas o militante, claro, não desiste. “Ah, mas o gado é um problema ambiental seríssimo, prejudica os cursos d’água, é a razão do desmatamento e polui o ar”. Não, meu caro repetidor de slogans de terceiros, o gado não é responsável por nada disso e, sim, o ser humano. Quantas fazendas serão necessárias para causar um prejuízo ambiental equivalente ao de uma cidade como São Paulo? Quantos cursos d´água deverão ser completamente poluídos para equivalerem à Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro? E ninguém desmata para criar boi e, sim, para cortar madeira. E desmatamento irregular não é da natureza do produtor rural. A maioria é ordeira e não desmata. Que se fiscalize e puna quem descumpre a lei.

Agora me deixe comer minha picanha em paz.


One Response to “Posso comer em paz?”

  1. É isso mesmo Adriano, o difícil desses radicais todos é a convivência. O sujeito, além de não aceitar o contrario de sua opinião fica aporinhando a cabeça dos que não seguem suas ideologias. Êta povinho chato sô! O que mais atrapalha esses movimentos todos(vegetarianos, verdes, etc) é a pouca inteligencia por parte deles, em não aceitar que os outros tem o direito da escolha, e que os radicalismos espantam mais do que agregam.